quarta-feira, 28 de novembro de 2012

NAVEGAR À EMPOSTA

Esta situação só podia acontecer em duas ocasiões muito distintas, embora dentro do mesmo contexto, sempre quando as condições de mar e vento estivessem bastante seguras.

Os pescadores depois de descarregarem o peixe para o navio, amarravam o seu bote ao último e saltavam para bordo para começar o processamento do peixe.

 
Navegar à "Emposta" (mudar de pesqueiro
à procura de mais peixe).
Este caso acontecia quando o tempo estava bem seguro (bom tempo) e a pesca do dia tinha sido boa. Assim não se perdia tempo a meter os botes dentro e ter de os arriar de novo pelas 4 da manhã do dia seguinte.

Também se fazia isto, mas sempre com bom tempo, quando os dóris eram arriados e a pesca era nula. O capitão chamava-os, mandava amarrá-los pela popa e com eles a reboque começava a navegar devagar para uma pequena emposta (mudar de pesqueiro à procura de mais peixe). Assim poupava os pescadores de se cansarem a remar e perdia menos tempo.


 



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

LUGRE "AVIZ"


Lugre "Aviz" embandeirado em arco
em frente aos Jerónimos na cerimónia da benção
Imagem (c) Reimar
 Lugre Construído em 1939 na Gafanha da Nazaré por António Bolais Mónica, para a Empresa Pesca Atlântico Lda. Porto.

O "Aviz" a navegar com vento fresco
em pleno Atlântico
Imagem(c) Fotomar Matosinhos
 Deslocava 523 toneladas brutas Comprimento 45,42 m Boca 10,30m Motor Deutz 400 hp Com frigorífico.
Pertencia à Companhia de Pesca Transatlântica, Lda., Porto; 01/1962 ficou celebre por ter suportado a grande cheia do rio Douro no meio do rio apenas com as amarras de proa, depois das amarrações estabelecidas para terra terem rebentado, devido à forte corrente, conquanto uma grande parte da navegação surta no rio, foi barra fora ou ficaram encalhadas nas margens, embora tenham sido recuperada, e levada para Leixões, ou mais tarde postas a flutuar


O "Aviz" a entrar em Leixões no regresso
de mais uma campanha
Imagem(c) Fotomar Matosinhos
 "AVIZ" - o primeiro lugre-motor de 4 mastros (mastros mochos, sem mastareus e sem pau da bujarrona) a ser construido nos estaleiros do Mestre Mónica, na Gafanha da Nazaré sob a vigilância do Lloyd's Register of Shipping.

Naufragou devido a incêndio na T.Nova em 23.9.65

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

LUGRE "OLIVEIRENSE"

O "Oliveirense" em Lisboa a fazer os preparativos
para mais uma campanha aos grandes bancos
Imagem (c) Fotomar, Matosinhos
O lugre-motor “Oliveirense”, um dos da minha tipologia de bacalhoeiros favorita, com a sua bela proa curvada (“de colher”), painel de popa inclinado, mastros bem guindados e com pouca palha, foi construído em madeira na Gafanha da Nazaré em 1938, por António Bolais Mónica, para a Empresa de Pesca de Bacalhau do Porto. Tinha 44m de comprimento, 10,5m de boca e 5,25m de pontal.


O "Oliveirense" no Porto
Imagem (c) Fotomar, Matosinhos
Pertenceu inicialmente à Empresa (portuense) da Pesca do Bacalhau e foi registado na capitania do porto da ‘Cidade Invicta’. Era gémeo do malogrado «Delães» e, como ele, media 44 metros de comprimento por 10,50 metros de boca e deslocava 415 tb. A sua carreira terminou dramaticamente em 10 de Agosto de 1965, quando se encontrava na zona de pesca de Virgin Rocks, na Terra Nova, na sequência de um incêndio que se declarou na casa das máquinas e que não foi possível extinguir.

 
O "Oliveirense" entra em Leixões,
no final de mais uma campanha
Imagem (c) Fotomar, Matosinhos
  A carga do «Oliveirense» -constituída, essencialmente, por 4 000 quintais de bacalhau salgado, por 190 toneladas de sal limpo e pelos pertences da equipagem- perdeu-se totalmente. O comandante do navio (capitão Mário Paulo do Bem), os 11 tripulantes e 44 pescadores salvaram-se todos nos dóris, sendo recolhidos pelo navio-motor «São Jorge», que operava nas imediações. O lugre «Oliveirense» pertencia, aquando do naufrágio, ao armador lisboeta S.N.A.B., ao qual fora vendido em 1941.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

LUGRE "NOVOS MARES"





LUGRE "NOVOS MARES"
foto museu marítimo de Ílhavo

Lugre Construído em 1938 na Gafanha da Nazaré por António Bolais Mónica, para a Empresa Testa e Cunhas, Lda. Aveiro

O "NOVOS MARES" - Lugre-motor de 4 mastros. Devido à segunda guerra mundial, fez as campanhas de 38 e 39 só à vela e sem máquina. Esta só foi instalada para a campanha de 1940.


A navegar "com vento do porão" . Quando o vento caí,
 a única  alternativa era ligar a máquina.

Construção típica dos lugres saídos dos estaleiros Mónica nos anos 30. Bela proa redonda “de colher”, em relação às proas de beque, maior capacidade de armazenamento de carvão, mastros bem guindados, com pouca palha, envergando no gurupés, a bujarrona, vela de estai e a polaca.

 Deslocava 434 toneladas brutas Comprimento 44 m Boca 10,41m Motor WUMAGO 315 hp Com frigorífico.
Naufragou devido a incêndio na T.Nova em 27.7.56

terça-feira, 13 de novembro de 2012

LUGRE "DELÃES"


Lugre "Delães" fundeado em frente
 aos Jerónimos na vépera de mais uma campanha

Lugre "Delães", gémeo do "Oliveirense". Construído em 1938 na Gafanha da Nazaré por António Bolais Mónica, para a Empresa de Pesca do Bacalhau do Porto, Lda. Deslocava 420 toneladas brutas Comprimento 44 m Boca 10,49m Motor Deutz 270 hp Com frigorífico. Para a campanha de 1942 é adquirido com o ser "irmão" pela SNAB.Uma das vítimas da barbárie nazi.



Durante a campanha de 1942 foram torpedeados e afundados os lugres "Maria da Glória" e o próprio "Delães". O primeiro em viagem para a Gronelândia, no dia 5 de Junho,  e o segundo, a 11 de Setembro, na viagem de regresso a Portugal.
Lugre "Maria da Glória"
Do acidente do "Maria da Glória" desapareceram 36 tripulantes, tendo sido salvos apenas 8 por um navio de carga americano após 10 dias de permanência nos dóris, incluindo o seu comandante Sílvio Pereira Ramalheira, que havia investido todas as suas economias na compra do navio. O estado de saúde dos sobreviventes era de tal modo delicado que levaram alguns anos a recomporem-se.

Os náufragos do "Delães", comandado por João Nunes de Oliveira e Sousa, tiveram melhor sorte. Salvaram-se todos. Quando abandonaram o navio e embarcaram nos dóris, amarraram-nos uns aos outros, formando um todo e ao fim de 18 horas foram recolhidos pelo lugre "Labrador" comandado por António Simões Picado e que vinha na sua esteira.

LUGRE "ARGUS"

 
Até 1942 o "Argus" com o casco pintado côr de
 sangue de boi,, ano em que toda a frota
 pintou o casco de branco, por motivos de segurança..
"ARGUS": Lugre em aço de 4 mastros de 696 toneladas brutas com um motor propulsor Sulzer de 480 HP.. Construído para a Parceria Geral de Pescarias, Lda., por Dehaan & Oerlemans (Heusen-Holanda) em 1939. Seguiu para os Bancos da Groenlândia no verão de 1939 e pescou sem perder uma campanha até 1970, ano em que foi resolvido não o armar mais para a pesca, por ser considerado antieconómico. Vendido para uma entidade canadiana em 1974.
 
O "Argus" a navegar com vento fresco.
 Após 1957 sem mastro de gurupés
Este veleiro histórico é também reconhecido por ser "irmão" dos lugres "Creoula" e "Santa Maria Manuela", tendo sido construído na Holanda, em 1939. Muito embora o seu desenho seja em tudo idêntico ao dos seus irmãos, o projecto do Argus já compreendeu algumas alterações e melhoramentos. Andou na pesca do bacalhau até 1970, acabando por ser vendido para o estrangeiro em 1974, tal como aconteceu, em 1971, com o Gazela Primeiro, outro dos veleiros emblemáticos da frota portuguesa - este último encontra-se em Filadélfia, nos Estados Unidos da América

O "ARGUS" a navegar nas Caraíbas como "POLINÉSIA II"
Operado pela companhia WINDJAMMER BAREFOOT CRUISES baseado na ilha de St. Marteen esteve a navegar nas Caraíbas como navio de cruzeiros, entre 1974 e 2009, ano em que foi adquirido em leilão, em Aruba, pela Empresa Pascoal & Filhos, S. A., com sede na Gafanha da Nazaré.
O projecto final para o "Argus", será num futuro próximo juntar-se no porto de Aveiro ao seu irmão "Santa Maria Manuela", numa aposta no mercado de turismo, como navio de Treino de Mar. Na companhia dos seus dois irmãos, foi considerado como o último dos "Cisnes Brancos " da famosa frota branca.


A espera que um dia a nação
os reconheça como merecem
O “ARGUS” foi o protagonista da obra que imortalizou internacionalmente a pesca do bacalhau pelos pescadores de Portugal nos inícios dos anos 50, sobre ela, Alan Villiers, oficial da Armada australiana, presença assídua nas páginas do National Geographic Magazine do segundo pós-guerra como repórter das “coisas do mar”, escreveu uma narrativa de viagem de um dos mais belos veleiros da frota bacalhoeira portuguesa. Embarcou no “Argus” em Lisboa no princípio de 1950 para uma viagem de 5 meses a documentar todo o processo da campanha. Após a chegada a Lisboa, Alan Villiers tinha acabado de criar um dos maiores clássicos da literatura marítima mundial, numa escrita límpida, envolvente e muito realista, deu-lhe o nome “A Campanha do Argus”.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

LUGRE "SANTA MARIA MANUELA"

O "Santa Maria Manuela " na sua roupagem de lugre
até 1966
O “Santa Maria Manuela” - juntamente com outros três lugres ex-bacalhoeiros: “Creoula”, “Argus” e “Gazela” - é um dos últimos sobreviventes da Frota Branca Portuguesa (Portuguese White Fleet).

Apresenta as seguintes características: Deslocamento : 667 tons / Comprimento: 57,77m / Boca : 9,94m / Pontal : 5,04m / Motor : Burnseister 380 HP Tem frigorífico.
Com excepção do “Gazela”, construído em madeira na viragem para o século XX, estes navios partilham muitas características, sendo o “Creoula” e o “Santa Maria Manuela” gémeos e o “Argus” muito semelhante. Os gémeos foram construídos lado a lado nos estaleiros navais da CUF em Lisboa, em 1937, e o “Argus” na Holanda em 1938, para se juntarem à frota existente e participarem nas campanhas de pesca do bacalhau.
O SMM na sua configuração actual de navio de treino de mar
após a sua total recuperação em Maio de 2010
Inicialmente pertencente à Empresa de Pesca de Viana, esta manteve o “Santa Maria Manuela” em actividade até 1963, ano em que o vendeu à Empresa de Pesca Ribau, da praça de Aveiro. O navio ainda operou na sua forma original durante alguns anos, tendo, no final da década de 1960 sofrido importantes transformações, consequência das inovações tecnológicas introduzidas na pesca do bacalhau.
Em 1993, apesar das benfeitorias efectuadas, o navio foi considerado obsoleto e abatido por demolição. Apenas o casco foi preservado e a partir daí iniciou-se um longo processo que veio a culminar na sua recuperação e na restituição do património identitário nacional que é o “Santa Maria Manuela” ao seu mar e às suas gentes.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

LUGRE "CREOULA"

 O "Creoula" a largar de Lisboa em Julho de 2012 seguido da barca alemã
"Alexander Von Humboldt", durante a participação da Talls Ship Race 2012 

Lugre construído nos estaleiros da CUF (Lisboa) em 1937 para a Parceria Geral de Pescarias de Lisboa
 0 «Creoula» é um lugre de quatro mastros, casco em aço. Construído no início de 1937 nos estaleiros da CUF para a Parceria Geral de Pescarias, o navio foi lançado à água no dia 10 de Maio efectuou ainda nesse ano a sua primeira campanha de pesca. Um número a reter é o facto de o navio ter sido construído no tempo recorde de 62 dias úteis.

As obras-vivas à vante, com particular destaque para a roda de proa, tiveram construção reforçada uma vez que o navio iria navegar nos mares gelados da Terra Nova e Gronelândia.
Até à sua última campanha em 1973, o navio possuía mastaréus, retrancas e caranguejas em madeira. O gurupés, conhecido como « pau da bujarrona», que também era em madeira, deixou de existir em 1959, passando o navio a dispor apenas de duas velas de proa: giba e polaca. Em boas condições de tempo alcançava facilmente os 12/13 nós de velocidade, cumprindo a distância da Terra Nova a Lisboa em cerca de 9/10 dias. O "Creoula" efectuou 37 campanhas até 1973 e chegou a pescar 600 quintais de bacalhau num só dia, o que corresponde a cerca de 36 toneladas e dá uma média de 660 kg por cada pescador.
Em 1979 o "Creoula" foi adquirido à Parceria Geral de Pescarias pela Secretaria de Estado das Pescas, com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, com a finalidade de nele ser instalado um museu de pesca. Em 1987 o "Creoula" foi formalmente entregue ao Ministério da Defesa Nacional, passando a ser designado como Unidade Auxiliar de Marinha (UAM 201) e classificado como "Navio de Treino de Mar (N.T.M.)"

Deslocamento : 664,57 tons / Comprimento: 57,77 m / Boca : 9,94 m / Pontal : 5,04 m / Motor : MTU 500 HP Tem frigorífico